Mudanças no Google beneficiam privacidade online

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Uma boa notícia: os serviços oferecidos pela Google estão tendo algumas opções-padrão redefinidas, fazendo com que a leitura de emails e, em breve, a própria pesquisa no site seja processada através de criptografia.

Desde o início do ano, o serviço Gmail funciona com um protocolo criptografado como padrão, impedindo o acesso aos emails dos seus usuários por técnicas de captura do tráfego de informações em uma rede.

Recentemente, a empresa anunciou que fornecerá a criptografia em seu serviço de buscas (Google.com). É um pouco irônico, mas este anúncio foi feito incidentemente, em meio à admissão da empresa de que teria – inadvertidamente, segundo ela – armazenado dados de navegação de milhares de redes Wi-Fi sem o consentimento de seus proprietários.

Na prática, as mudanças na direção da encriptação de seus serviços torna os dados que trafegam entre a empresa e seus usuários opacos a terceiros, ao menos potencialmente. Isto aumenta a segurança dos serviços oferecidos – claro, sem diminuir o volume de informações pessoais tratadas pela própria Google.

Na prática, garante-se que os emails armazenados no Gmail e as buscas feitas pelo google.com não poderão ser conhecidas pelo man in the middle – um intermediário, como o provedor de acesso – ou terceiros que interceptem estas comunicações. O que não muda é que estas informações continuam a ser armazenadas pela Google, de quem vai depender de forma quase absoluta a integridade e a utilização a ser feita dos dados pessoais.

Este novo padrão também torna relativamente ineficazes as técnicas de monitoramento de navegação propostas por instrumentos como, por exemplo, o Web Discover, da Phorm (no Brasil lançado como o programa Navegador, conforme anunciado pela Oi e outros provedores), que buscam interceptar o tráfego de dados entre o usuário e o provedor de acesso. Este tráfego, caso seja criptografado entre a Google e o seu usuário final, tornar-se-ia opaco para fins de interceptação – o que faria que as páginas de busca no Google resultassem indecifráveis para estes instrumentos de monitoramento.

Esta adoção de mecanismos de segurança pela Google se dá, muito a propósito, após a divulgação dos ataques informáticos sofridos pela empresa que, alegadamente, tiveram sua origem na China e justificaram, entre outras coisas, a mudança no perfil da atuação da Google no mercado chinês.

Executivos da Google condenados na Itália: a punição exemplar de um concorrente incômodo?

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imagem: gizmodo.com

A notícia de que três altos executivos da Google Inc. acabam de ser condenados criminalmente por um tribunal italiano por conta da exibição no site YouTube de um vídeo no qual um portador da síndrome de Down era submetido a atrocidades está girando o mundo e causando a justificada perplexidade.

As razões desta perplexidade podem ser identificadas no comunicado oficial da empresa. O vídeo permaneceu no ar por algumas horas até ser denunciado e retirado do ar. A empresa colaborou nas investigações que levaram à identificação e condenação daqueles que perpetraram os atos contra a vítima. A capacidade de reação da empresa, portanto, não parece ser o problema. A condenação se deu, porém, pelo fato da empresa não ter evitado que o vídeo fosse levado ao ar.

Não é possível, no entanto, realizar a verificação prévia – ou seja, a censura – de todo o conteúdo carregado em um site como o YouTube sem prejudicar gravemente a sua escala ou então recorrer a mecanismos de filtragem e censura tipicamente “chineses“. Além disto, a verificação prévia de conteúdo conflita com o princípio segundo o qual a responsabilidade pelo dito é, a princípio, de quem o produz e divulga, e não do meio utilizado para a divulgação.

A decisão, ainda que não tenha sido publicada na íntegra e mereça cuidadosa análise posterior, já vem recebendo seu esperado quinhão de críticas [1], [2] que, naturalmente, atingem o país como um todo.

O que pode não ser tão claro é que a decisão se enquadra em um clima de animosidade contra a empresa e, de forma geral, contra várias redes sociais, animosidade esta cuja origem não é meramente a “defesa do cidadão contra interesses corporativos”, conforme argumenta de forma no mínimo ingênua um magistrado milanês que tratou do caso.

As “velhas mídias” na Itália – principalmente a televisão – são as primeiras que temem as empresas que possam pulverizar a sua influência e audiência. Estas mídias estão na base de diversas ações que, versando sobre privacidade, propriedade intelectual ou outros argumentos, procuram colocar em xeque novos modelos de negócios em suas áreas e, assim, bloquear a concorrência. A questao merece, portanto, uma detida análise sobre o ponto de vista da defesa da concorrência e também da liberdadede informação.

Vale a citação a seguir e o convite a ler uma excelente primeira análise de Vittorio Zambardino sobre o ocorrido e seu contexto:

Si può dire in due modi, con linguaggio da mass mediologi: Il problema di questi mesi è la ricerca di un varco per fermare la disgregazione dell’audience televisiva generalista ad opera dei social network, utilizzando anche il sogno censorio di una restaurazione dello status precedente dei media, quello nel quale gli utenti non parlano. Consumano.

E si può dire con linguaggio politico: che la politica e gli apparati giudiziari cercano i modi per ricondurre dentro l’esistente la novità di internet, che è novità umana e sociale prima che tecnologica e non ce la fa ad “entrare” in quelle norme preesistenti, come il dentifricio spremuto fuori non rientra nel tubetto.

Liberbade na Internet e cyberwarfare

Mencionando expressamente direitos humanos ligados à liberdade de expressão e privacidade, chegou a hipotizar que países que não salvaguardassem as liberdades individuais na Internet poderias sofrer uma forma de “ostracismo” – eventualmente pelo próprio mercado, eventualmente como resultado de uma ação governamental cujo perfil não foi mencionado. … Consistindo, grosso modo, em práticas de vigilância, espionagem e sabotagem por meio de redes informáticas, algumas das mais recentes análises trazem justamente para este campo a recente decisão da Google Inc. de não mais exercer a censura de seus próprios resultados de busca no google.cn , assumindo o risco de sair do mercado chinês.

Em um recente discurso, Hillary Clinton, secretária de Estado norte-americano, adentrou resolutamente no tema da liberdade e dos direitos fundamentais na Internet. Mencionando expressamente direitos humanos ligados à liberdade de expressão e privacidade, chegou a hipotizar que países que não salvaguardassem as liberdades individuais na Internet poderiam sofrer uma forma de “ostracismo” – eventualmente pelas mãos do próprio mercado, eventualmente como resultado de uma ação governamental cujo perfil não foi mencionado.

A forma de uma tal ação é o que vem sendo tratado como a cyberwarfare. Consistindo, grosso modo, em práticas de vigilância, espionagem e sabotagem por meio de redes informáticas, algumas das mais recentes análises trazem justamente para este campo a recente decisão da Google Inc. de não mais exercer a censura de seus próprios resultados de busca no google.cn , assumindo o risco de sair do mercado chinês.